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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

            Sangiovese a rainha da Toscana






A cepa sangiovese, juntamente com a barbera, é uma das mais difundidas em território italiano, cobrindo cerca de 11% da área cultivada de norte a sul, sendo a uva mais utilizada na Toscana.
É a rainha dos vinhos tintos do centro da Itália, entrando na composição de praticamente todos os vinhos tintos da Toscana, Umbria e Marche como vinhos varietais ou em porcentagens diversas em vinhos de corte.

A sangiovese está para a Itália assim como a cabernet sauvignon está para a França, são vinhos que exprimem uma identidade vitivinícola de um país.  (Giacomo Tachis)

Os estudos ampelográficos indicam que a sangiovese tem origem na região dos Apeninos entre a Toscana e a Romagna, a primeira citação é do século XVII de Giovanvettorio Soderini no tratado “Coltivazione toscana delle viti e d’alcuni alberi” aonde diz “o sangiocheto ou sangioveto é um vinhedo marcado pela sua produtividade regular”.

A primeira citação com o nome sangiovese vem em um documento de 1772, e se pensa que já era produzida pelos etruscos há mais de 2000 mil anos para a produção de vinhos. A origem do nome é incerta, são três as hipoteses: que se remete a “sangiovannese” advindo de São João Valdarno ou “san giovannina de São joão Battista ou ainda “sanguegiovese” de Sangue de Júpiter.

Em análise de DNA no início dos anos 2000 não foi identificado parentesco da sangiovese com cepas selvagens toscanas, mas sim com a variedade ciliegiolo. Em 2007 alguns experimentos sugerem também algum parentesco com cepas da Calábria, quais sejam nerello mascalese e Greco Nero di Cosenza. Em estudos de 2013 e 2014 confirma que a sangiovese era cultivada na Sicilia e Calabria, gerando as variedades nerello mascalese, gaglioppo di Cirò e mantonicone

A sangiovese, assim como a pinot noir, possui uma capacidade de mutação muito grande, produzindo grande diversidade de clones. A ampelografia divide a sangiovese em sangiovese grosso (também chamada de sangiovese forte e inganna cane) inclui os clones Brunello (Brunello di Montalcino) e Prugnolo Gentili (Vino Nobile di Montepulciano). E sangiovese Piccolo, também conhecida como cordisco, morellino, sangioveto, sanvicetro, uva tosca e primutico, que inclui os clones todi e morellino. Os diversos clones de sangiovese possuem nomes específicos dependendo de onde são cultivados, o catálogo da Vivai Cooperativi Rauscedo, no Friuli, apresenta 25 clones.

É uma variedade de uva com maturação tardia, com ótima capacidade de adaptação em diversos tipos de solos, preferindo terrenos com bom percentual de calcário, aonde produz seus melhores aromas.É muito sensível ao mofo, anos chuvosos não produzem grandes vinhos.

São produzidos na Itália cerca de 242 vinhos DOC e DOCG com a uva sangiovese, sejam varietais ou vinhos de corte. Os vinhos varietais normalmente possuem acidez alta, grande conteúdo de taninos, cor moderada e estrutura mediana, consistindo em vinhos ásperos e impetuosos. Para tornar esse vinhos mais suaves ao tato, tradicionalmente se adiciona outra uva em sua produção, canaiolo Nero no Chianti na Toscana e no Torgiano Rosso na Umbria.Também é prevista a adição de uvas brancas (Trebbiano Toscano e Malvasia Bianca em Chianti) em muitas DOCs e DOCGs, prática cada vez menos adotada.

Hoje em dia se faz outras misturas, adicionando uvas ou vinhos de uvas internacionais como cabernet sauvignon, merlot e syrah, tornando o vinho de sangiovese mais macio e aumentando em muitos casos seu corpo, alguns desses cortes levam o nome de “supertoscanos”. Tradicionalmente o vinho de sangiovese tinha afinamento em grandes barricas de madeira, hoje em dia devido a técnicas mais modernas a maturação vem sendo feita em pequenas barricas de carvalho e raramente é realizada em tanques de aço inox ou cimento. Devido à grande acidez e adstringência as melhores safras são produzidas em anos quentes e secos, possuindo longevidade de acordo com a qualidade da safra e técnicas de produção, sendo entre 2 e 8 anos ou vinhos que podem ser guardados mais de 20 anos.

A cor de seus vinhos é influenciada pelas técnicas de cultivo e condições meteorológicas da safra. Normalmente possui capacidade colorante média, mostrando cor vermelho rubi com transparência evidente. Em anos pouco favoráveis ou grandes safras a transparência é acentuada e a cor possui tonalidade mais clara.Com a evolução os vinhos de sangiovese passam a tonalidade alaranjada.

Entre os aromas dos vinhos de sangiovese prevalece o de frutas vermelhas e negras como amarena, amora e ameixa, entre os aromas florais estão violeta e rosa, outros aromas são groselha, morango, cereja, framboesa e mirtilo. Quando é afinado em barricas de madeira os aromas remetem a especiarias como baunilha e alcaçuz e aromas empireumáticos de tostado, café e chocolate, a intensidade desses aromas depende de como o vinho foi afinado.

Para a sangiovese grosso, devido ao maior tempo de afinamento, os aromas de frutas frescas serão substituídos por aromas de geleia de frutas e frutas cozidas, como geleia de amarena, geleia de amora e calda de ameixa e podemos esperar notas de vegetais como tabaco, e com o tempo aromas de bosque, feno e cogumelos. Em vinhos com longo período de afinamento, como vinhos reserva tanto de sangiovese grosso como Piccolo pode-se sentir além dos aromas de geleias de frutas, aromas de couro e pele, e aromas herbáceos como eucalipto, menta, e tomilho.

Em boca a principal característica perceptível é a acidez alta e também o conteúdo de taninos, grande adstringência, suavizados em vinhos que passam por afinamento em barrica. Com a adição de cabernet sauvignon os vinhos de sangiovese ganham estrutura, com merlot ganham suavidade e canaiolo nero é tradicionalmente e historicamente adicionado. A gradução alcoólica é variável de moderada a alta, trazendo equilíbrio ente acidez e adstringência, ao vinho.

Hoje na Itália a sangiovese é cultivada na Emilia Romagna, Lazio, Liguria, Lombardia, Veneto, Abruzzo, Campania, Molise, Puglia, Calabria, Sicilia e Sardegna, fora da Itália, levada por imigrantes ou plantada posteriormente é encontrada em vinhos da Califórnia (Sonoma County a San Luis Obispo), Argentina, Córsega (recebe o nome de nielluccio), Brasil, Uruguai, Chile e Austrália.

Fonte de dados:
 Giovanvettorio Soderini, “Coltivazione toscana delle viti e d’alcuni alberi” 1622


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